Longitudes
Nena Balthar
“Se este mundo fosse uma planície infinita e, ao navegar para o oriente, pudéssemos sempre alcançar novas distâncias e descobrir espetáculos mais agradáveis e estranhos do que as Cíclades ou as ilhas do Rei Salomão, então a viagem conteria uma promessa. Mas no encalço daqueles mistérios remotos com que sonhamos, ou na caçada atormentada do fantasma demoníaco que, vez por outra, nada à frente de todos os corações humanos; enquanto permanecemos nessa perseguição ao redor do globo, tais mistérios nos levam a labirintos áridos ou na travessia nos largam submersos.”
Herman Melville
Sempre convocando o corpo percorri superfícies de paredes, papéis e arquiteturas. Ao mergulhar no mar e nas piscinas de locais na cidade do Rio de Janeiro, e outras por mim visitadas, tomei a paisagem como convite à ação, e ela (a paisagem) também como ação. Em meu peito sonho que o mundo possa ser “uma planície infinita” e nos permita navegar e alcançar novas distâncias.
Desenho.modo é uma série de desenhos feitos a partir de performances nas quais nado, com uma câmera digital presa na minha cabeça, na superfície d’água de paisagens por mim visitadas. É a presença da água na paisagem, seja o espelho d’água de piscinas e de lagoas ou do mar, que define os locais onde a performance é realizada. A respiração e o deslocar-se na superfície líquida são os elementos sonoros da obra.
Na série de fotografias performáticas Desenho para Paisagem, corpo e desenho são alçados para o exterior – a paisagem – e se tornam paisagem. Fiz das arquiteturas e dos lugares da cidade palco de seu aparecimento. As duas séries aqui apresentadas podem ser vista como “guias para navegações cotidianas” e “mapas como coisa em ação”[1].
[1]MARQUEZ, Renata M. Mapa como Relato. In: RA’EGA. O espaço Geográfico em análise. Revista do departamento de geografia e Pós-Graduação em Geografia da UFPR. p. 54. Disponível em: http://ojs. c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/raega/article/view/36082/22262 Acessado em 29.06.2014.
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NENA BALTHAR é artista, doutoranda em processos artísticos no PPGArtes/UERJ. Participa de exposições no Brasil e exterior. Recebeu prêmios no 1º Salão Cândido Portinari, no 1º Salão de Inverno da UFRJ e o prêmio Rede Nacional Funarte de Artes Visuais – 7a edição. Sua obra figura em coleções públicas como o Museu de Arte do Rio (MAR). Trabalha com desenho, performance e vídeo. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
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