Perícia
Juliana Franklin
Marcas e vestígios se inserem nos universos da perícia e da arqueologia. Da perícia: investigar, averiguar, pesquisar, procurar evidências do não revelado. Buscar os rastros, memórias, índices, indicativos, marcas de um acontecimento para produção de discurso e visibilidade. Da arqueologia: o estudo sistemático dos restos materiais da vida humana; a reconstrução da vida a partir das manifestações materiais.
Nunca deixei de observar a quantidade incontável de marcas de tiros nas comunidades do Rio de Janeiro com as quais convivo. Para permanecer ali, trabalhando ou morando, é preciso esquecer por alguns instantes, ou não lembrar a todo momento, da eminência do perigo e das dores que cada um desses lugares carrega. Por outro lado, como permanecer ou continuar sem olhar para essas marcas e tudo o que elas nos dizem e silenciam? De uma indignação e negação a torná-las invisíveis ao meu próprio olhar, realizei Perícia.
Perícia, 2011.
82 frotagens em papel jornal A3 e giz de cera sobre marcas de tiros que atingiram residências no Complexo da Maré, Complexo do Alemão, Fallet, Cantagalo e Santa Marta.
Coleta, 2011.
Projéteis de tiros que atingiram a casa de Dona Silas, Marcus e Marisa. Doado por Dona Silas. Fallet, Rio de Janeiro, s/d.
Imagens da exposição Cidade e Desaparecimento, Centro Cultural Justiça Federal, Rio de Janeiro, 2011.
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JULIANA FRANKLIN é artista visual e contadora-catadora de histórias. Mestre em Artes pela UERJ, graduada em Comunicação pela UFRJ. Em sua pesquisa artística, investiga possíveis relações entre risco, acidente e desenho e seus desdobramentos em temas como morte, tempo, transitoriedade e memória. Como educadora pesquisa e ministra cursos sobre narrativas e alteridade. Participou das exposições como “Cotidiano e Mobilidade” na EAV, “Cidade e Desaparecimento” no CCJF, “Paisagens e Extremos” (Galeria Cândido Mendes) e Fábrica Aberta 2012 e 2013 (Bhering).
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