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PHOTO OPPORTUNITIES

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PHOTO OPPORTUNITIES*

Corinne Vionnet, imagens

Madeline Yale Preston, texto

 

al-gizah, 2006 | série Photo Opportunities

al-gizah, 2006 | série Photo Opportunities

Para a maioria de nós, visitar um ponto turístico significa fotografá-lo. Inspirados por imagens que vimos de lugares exóticos, embarcamos em caças ao tesouro diante de monumentos de renomada grandeza. Ao enquadrar em nossos viewfinders locais de turismo massivo, criamos souvenirs fotográficos que resumem a experiência turística. Esses produtos, nomeados photographtrophies [troféus fotográficos] (I) por Susan Sontag, separam nosso lazer da experiência diária real do trabalho e da vida, são a prova de que nos divertimos nas férias e que, de fato, vimos a Torre Eiffel, a Estátua da Liberdade ou o Burj Khalifa.

Photo Opportunities [Oportunidades fotográficas] advém das férias que a artista franco-suíça Corinee Vionnet passou na Itália, em 2005. Enquanto fotografava a Torre de Pisa, ela observou dois fenômenos: que os turistas nitidamente fotografavam o monumento de pontos semelhantes e que as numerosas lojas de lembrancinhas situadas na área ao redor da Torre não existiam na pré-visualização que a artista tinha do ambiente, sugerindo que ela tinha exagerado nas idealizações do destino que escolhera.

De volta à casa, Vionnet buscou na Internet imagens corriqueiras da Torre de Pisa e encontrou uma consistência notável na repetição do olhar dos turistas. Ela então concluiu que fazemos fotografias de fotografias – fac-símiles idealizados de imagens famosas. Na maioria das fotos, elementos indesejados ou menos pitorescos, tais como lojas de souvenirs, são cortados. Tal característica fez com que Vionnet examinasse como selecionamos o lugar ideal de onde fotografar um monumento e como editamos aquilo que é supérfluo em relação à realidade construída do nosso ócio. Onde nos posicionamos na entrada do Taj Mahal, de modo a apresentar sua fachada arquitetônica em perfeita simetria? Onde nos colocamos para enquadrar, na mesma escala, os quatro presidentes norte-americanos esculpidos no Monte Rushmore? Talvez escolhamos instintivamente onde e como fotografar monumentos conhecidos. Estaríamos então condicionados socialmente a fotografar o que já vimos – imagens romantizadas de lugares icônicos que se popularizam em filmes, na televisão, em cartões postais e na Internet?

Vionnet se debruçou sobre estatísticas de destinos turísticos populares e sobre as imagens propagadas pela indústria do turismo e por sites de compartilhamento de fotos. Milhares dessas imagens foram selecionadas para a série Photo Opportunities, produzindo um comentário da artista a respeito do turismo e sua relação com a cultura digital. Trabalhando com múltiplas imagens de diferentes monumentos, suas composições são sobreposições etéreas feitas a partir de centenas de camadas de imagens.

Embora as imagens que formam a infraestrutura dos trabalhos de Vionnet autentiquem expedições turísticas, elas também são versões mediadas do real, influenciadas por incontáveis produtos embalados e rotulados, os quais mostram apresentações “encenadas” da realidade fotografadas a partir de pontos vantajosos e certificados. O negócio do turismo é uma das principais indústrias do mundo. Mercantiliza destinos, disseminando imagens representativas e esteticamente agradáveis. Além disso, impulsiona o desejo turístico e sua consequente geração de fotos corriqueiras e similares, as quais se disseminam através da conectividade global. Em muitos casos, a propagação desses ícones visuais contribui para o “Efeito Bilbao” (referente ao Guggenheim Museum, de Frank Gehry, em uma outrora vacilante cidade industrial), que gera empregos, trocas cambiais e crescimento financeiro.

No entanto, as fotografias dessas microeconomias turísticas são versões mediadas de experiências pontuais e concretas, sendo, em parte, responsáveis pelas distorcidas percepções estrangeiras das particularidades nacionais e das identidades culturais. Embora tais imagens possam promover o emprendimento turístico e torná-lo objeto de um prazer extremo, elas apresentam microcosmos globais em unidades e divisões. Há pouca integração entre populações locais e estrangeiras nos destinos turísticos; a quantidade de turistas geralmente eclipsa a dimensão das comunidades locais. O que já foi uma aventura no “estrangeiro”, como coloca Fred Ritchin, agora se tornou rotina. Carente de intimidade e improviso, a previsível experiência turística gera clichês fotográficos posados. Embora essa mitologia seja uma construção normativa das nossas tradições culturais, sua relativa originalidade fotográfica oferece uma oportunidade de ser revitalizada (III).

Há não muito tempo, era comum organizar fotos de férias em cadernos de viagem. Esses álbuns, curados cronologicamente, serviam como suporte para coleções e relatos, trazendo percepções dos viajantes a respeito de suas jornadas. Tinham relação com o advento de câmeras portáteis, a massificação das viagens aéreas e os pacotes de excursões. O “viajante” transformou-se em “turista” (IV), e os arquivos fotográficos de férias começaram a se multiplicar. Atualmente, é mais provável que o caderno de viagens seja um diretório online de imagens digitais do que um álbum físico. Quando colocados na esfera pública, os souvenirs de viagens se transformam em produtos turísticos anônimos, rastreáveis por meio das palavras-chave neles inscritas por seus criadores. As intersecções virtuais das fotos online de Vionnet geram as camadas do seu álbum de fotos alternativo.

A revolução digital criou novas oportunidades de descobertas fotográficas. Corinne Vionnet é uma das artistas, parte de uma diversidade crescente, que se ocupa da persistência de composições fotográficas repetidas e de como isso constrói nossa percepção histórica e cultural. (V) Projetos online em série, tais como Suns, de Penelope Umbrico, a partir do Flickr, e Google Averages, de Meggan Gould, chegam a conclusões parecidas sobre a complexidade da imaginação fotográfica. Há também projetos como Every Playboy Centerfold, de Jason Salavon, Every, de Idris Khan… Bernd e Hilda Becher… séries que esculpem imagens de caráter impressionista em composições similares. A multiplicidade de fotos amadoras, disponibilizadas online, estimularam o interesse de Vionnet pelo poder da fotografia de direcionar a experiência humana e pelo papel das fotos de viagem como espaços que organizam recordações mais personalizadas.

Cada imagem de Photo Opportunities compreende o “olhar turístico” (VI), cujo referente visual distorcido funciona como suporte para transporte da memória, afunilando experiências múltiplas em lugares familiares. Vionnet constrói uma variação perspectiva de camadas desfocadas, interrogando nosso instável desejo de posse de férias fugazes, e as congela em um registro tangível. (VII) Lugares como o Partenon, as Pirâmides do Egito e o Monte Saint-Michel flutuam suavemente em uma névoa lúdica. Da mesma forma, os turistas surgem como aparições, permitindo que o espectador se insira na fotografia e vislumbre um encontro exclusivo com um dado cenário. Trata-se de uma tentativa subversiva de fomentar a imaginação turística: de modo concorrente, a experiência romantizada é coletiva e privatizada.

Para muitos de nós, felicidade implica tempo de ócio. De forma pertinente, Sontag diz que as excursões são frequentemente sucessões roteirizadas por mediações fotográficas com o real – rupturas que nos distanciam de qualquer engajamento com o nosso entorno. A construção e a revisão do caderno de viagens contemporâneo nos permite extrair o processo nostálgico de reflexão da memória, de modo a alongar e idealizar a experiência do tempo. Quando compartilhados online, esses “troféus fotográficos” são assimilados em vastos diretórios de imagens indexadas. Em Photo Opportunities, Corinne Vionnet teoriza nosso consumo desses padrões da cultura visual, bem como nossa contribuição para esse fenômeno, proporcionando uma perspectiva nuançada que pode prover inspiração para a nossa próxima oportunidade fotográfica.

 


*Texto originalmente publicado no livro Photo Opportunities, publicado pela editora Kehrer Verlag.

(I) Sontag, S., On Photography (New York: Picador, 1977), p. 9.

(II) Wilson, R. and Dissanayake, W. (eds.), Global Local: Cultural Production and the Trans-national Imaginary

(Durham: Duke University Press, 1998), pp. 7-9.

(III) Ritchin, F., After Photography (New York: W.W. Norton & Company, Inc., 2009), pp. 53-57.

(IV) Ibid.

(V) Rexler, L., The Edge of Vision: The Rise of Abstraction in Photography (New York: Aperture, 2009), pp. 185-87.

(VI) Urry, J., The Tourist Gaze: Leisure and Travel in Contemporary Societies (London: Sage, 2002).

(VII) Tisseron, S., Le mystère de la chambre claire: Photographie et inconscient (Paris: Flammarion, 2008).

 

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CORINNE VIONNET é artista visual franco-suíça vivendo atualmente em Vevey, Suíça. Seu trabalho já foi exibido no Rencontres d´Arles; na Maison Europénne de la Photographie, em Paris; no Foto Museum de Anvers; no Arts Santa Monica, em Barcelona; no Musée d´Art du Valais, na Suíça; no Musée Jenisch, em Vevey, também Suíça; no Musée des Beaux-Arts de Lausanne; no Chelsea Art Museum, em Nova York e no Museum of Contemporary Art, em Denver. Também tem aparecido com frequência na imprensa, em veículos como Beaux-Arts Magazine, The Telegraph, The Wall Street Journal, Huffington Post, The British Journal of Photography, Les Lettres et les Arts, Images Magazine e Yvi; assim como em diversas publicações, incluindo a Photo Opportunities, uma monografia publicada pela galeria Kehrer Verlag; Photography Vol. 4: The Contemporary Era 1981-2013, pela Skira; Art and the Internet, pela Black Dog Publishing; e MAO, pela Horizons Editions. Em Janeiro de 2013, foi convidada para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e apresentar seu trabalho em uma conferência intitulada “Seeing is Believing” (“Ver para Crer”). Em janeiro de 2015, Corinne abre uma exposição individual do seu trabalho Photo Opportunities na galeria Danziger, em Nova York.

MADELINE YALE PRESTON é curadora independente e escritora. Doutoranda na Chelsea College of Art & Design, University of the Arts London, onde escreve sua tese Import/Export: The Rise of Contemporary Art Photography from the Middle East in the 21st Century. Ela curou mais de 30 exposições de fotografia e mídia relacionadas nos Estados Unidos, Reino Unido e Emirados Árabes, e escreve para publicações sobre fotografia e arte do Oriente Médio, incluindo Contemporary PracticesCanvas. Seu recente catálogo de ensaios inclui ‘Steve Sabella: Freefalling into the Future’ (Meem Gallery, 2014), ‘Tarek Al Ghoussein: K Files’ (The Third Line, 2014), e ‘Firsts, Lasts, and In-Between: Art in Noor Ali Rashid’s Documentary Practice’ (Sharjah Art Museum, 2014), e seu ensaio ‘Representation (In)Location’ is featured in Transfigurations: Tarek Al-Ghoussein (Black Dog 2014). Ela serviu como assessora de fotografia do Oriente Médio para instituições incluindo o Victoria & Albert Museum, o Cleveland Museum of Art, e o Sharjah Art Museum, e como consultora de fotografia para o Bonhams. Vive em Dubai e Londres.

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