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Welcome, Willkommen, Bienvenue, Benvenuto, Bienvenido, Bem-vindo

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Welcome, Willkommen, Bienvenue, Benvenuto, Bienvenido, Bem-vindo

Laura Andreato

 

Como Pintar Picos Nevados é resultado de um processo em que me dediquei a aprender a pintar picos nevados unicamente por meio de manuais de pintura e vídeos instrutivos. A pesquisa durou cerca de oito meses e deu origem a uma exposição composta de um conjunto de 25 pinturas e um vídeo que ocuparam o espaço expositivo do Ateliê 397, espaço cultural localizado em São Paulo, durante os meses de setembro e outubro de 2013.

O nome escolhido para a exposição, de certa maneira, evidenciava seu caráter de proposição. O enunciado Como Pintar Picos Nevados, tomado como título, insinuava ao espectador que não se estava simplesmente diante de uma exposição de pinturas. Sugeria estar-se diante de algo que foi feito conforme um método determinado, que era ali apresentado. Ou, ainda, podia-se estar diante de um empreendimento com uma pretensão ainda maior: apresentar um modelo, um exemplo, como aqueles que figuram impressos em livros didáticos para demonstrar ao aluno como realizar sua tarefa.

Assim como o nome da exposição representava uma prescrição, um modo pelo qual se deveria proceder, sua fase de produção também foi norteada por algumas regras que representavam parte constitutiva de um plano conceitual para a obra. A primeira delas estabelecia que não me seria permitido ter lições gerais de pintura. O aprendizado deveria ser instrumental e específico: somente deveria aprender a pintar picos nevados. A segunda regra designava que a instrução ocorresse exclusivamente por meio de manuais de pintura e vídeos tutoriais.

A técnica que se adotou nessa experiência, intitulada Wet on Wet, ou Úmido Sobre Úmido, permite que o aluno aprenda de maneira descomplicada e rápida a pintar uma paisagem reconhecível como tal. A promessa é de que, mesmo alguém sem experiência anterior em pintura será capaz de reproduzir o modelo, caso siga precisamente as instruções.

As etapas necessárias para aprender a pintar uma paisagem, de acordo com o método, não incluem ir a campo, observar a natureza, nem recolher imagens fotográficas de referência, tampouco evocar mentalmente as formas acentuadas dos picos ou o branco intenso da neve. As formas, luzes e sombras são resultados de gestos programados, realizados por ferramentas especificas. O método prevê, portanto, que para aprender a pintar adequadamente uma bela paisagem o aprendiz, paradoxalmente, não direcione seu olhar à natureza.

Welcome

Welcome é uma série de pinturas murais que foi apresentada na exposição Comic Sans no Centro de Cultura Contemporânea de Quito em 2012. A série, que continua em aberto, apresenta imagens de paisagens estilizadas que faz referência a uma certa figuração pop norte-americana, em voga nos anos 70, que se popularizou mundo afora por meio da publicidade e da indústria.

As palavras que aparecem nas pinturas,  Welcome, Continental, Riviera, Nevada e Montana, não foram escolhidas por seu significado literal, mas por uma segunda camada de sentido agregada a elas pelo universo ao qual são geralmente associadas. Pela sua inserção numa certa categoria de palavras que abandonam suas identidades, suas pátrias e significados específicos para habitar um certo léxico universal, utilizado para nomear produtos, estabelecimentos e categorias de clubes exclusivos. Podem prestar-se a batizar um hotel, um motel, um cinema, uma agência de viagens, uma marca de cigarros, de eletrodomésticos, um modelo de carro…

As pinturas poderiam estar em paredes de postos de beira de estrada da lendária Rota 66 ou em uma BR qualquer recebendo o viajante com cordialidade e oferecendo, logo de cara, seus melhores atributos: as belas paisagens.

Califórnia

Califórnia é uma obra gráfica, um pequeno folder dobrável que traz em sua superfície um suave degradê que faz alusão ao pôr-do-sol. Sobre a delicada mudança de tons do degradê, foi aplicada uma textura reticular característica da indústria gráfica, porém de forma ampliada. Vê-se a olho nu, o que se veria somente através de uma lupa, numa operação que evidencia o processo pelo qual passa o papel na hora da impressão. A referência ao seu próprio momento de produção não está somente nas retículas: o nome que vem escrito no folder é também o nome da gráfica que o imprimiu. Na parte de trás, o impresso traz somente novas informações sobre si mesmo: o nome e o endereço da gráfica, o tipo de fonte que foi utilizado, a tiragem, o tipo de papel e sua gramatura. Ao fazer referência ao próprio processo de impressão, Califórnia torna-se, além de um produto da gráfica Califórnia, um trabalho feito especificamente para ela e sobre ela.

Florida

A intervenção Flórida foi realizada em estabelecimentos comerciais em diversos bairros da cidade de São Paulo, em 2009. O que estes estabelecimentos tinham em comum era o nome: todos chamavam-se Flórida. A ação explorava o tipo de imagens que este nome evoca. Silhuetas de palmeiras e flamingos recortados em MDF, pintados de preto e iluminados em sua parte posterior por luzes laranjas foram deslocados até cada um desses estabelecimentos e dispostos de maneira a compor uma “cena”. Estas imagens – associadas ao turismo de verão – recolocadas fisicamente no interior do estabelecimento evidenciavam o descompasso entre o que o nome designa e o que o lugar realmente era, materializando, ainda que temporariamente, o destino e as expectativas que o nome sugere para o lugar.

 

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LAURA HUZAK ANDREATO é artista plástica. Formada em Artes Plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da USP, atualmente cursa o mestrado em Poéticas Visuais na mesma instituição. Realiza, desde 2001, exposições individuais, entre elas Le Royale, (La Maudite, Paris, 2014); Paradiso (Vitrines do MASP- no metrô, 2012); Café Vacance (Funarte-SP, 2009); e Mecanismos de Aferição (Centro Universitário Maria Antônia, 2006). Participou ainda de mostras coletivas em importantes instituições como Deslize (MAR-Museu de Arte do Rio, 2014), Comic Sans (Centro de Cultura Contemporânea de Quito, 2012);  Dentro do Traço Mesmo (Fundação Iberê Camargo, 2009), entre outras. Vive e trabalha em São Paulo.

 

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