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Le Métèque – Entrevista com Evgen Bavcar

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Le Métèque (o estrangeiro)
Entrevista com Evgen Bavcar

por Diogo Oliveira e Sofia Tessler de Souza

 

Fechar os olhos para olhar. É através das palavras de Evgen com seus disparos artísticos que vamos criando nossas próprias imagens sobre sua infância e sua história de vida onde a guerra sempre esteve presente. Evgen perdeu completamente a visão aos 12 anos de idade. Um menino. Um menino cheio de vida em um país arrasado por uma guerra e prestes a entrar em tantas outras. Esse menino seguiu em frente e se transformou no artista que tivemos o prazer de conhecer e conversar longamente por 3 vezes.

Perder a visão com 12 anos é um rompimento bastante traumático para Evgen, porém deu espaço a uma sensibilidade para criar sua própria forma de olhar e se apropriar do mundo, em que o corpo e a imaginação são seus companheiros mais fiéis.

O que mais nos chamou a atenção foi a sua leveza e humor ao tratar de um assunto tão sério. Evgen guardou com ele um espírito jovem. Ele ainda hoje é um menino que brinca pelos campos da Eslovênia e se apaixona por meninas da escola. Mesmo as lembranças mais duras daquele tempo são contadas de forma lúdica. Suas memórias são permeadas de belas imagens que nos vão surgindo à medida que penetramos sua história. E é o próprio Evgen que nos guia nessa direção. Como ele sempre fala: “Não podemos olhar através do outro”.

Pokopališče: "É um cemitério de soldados austro-húngaros, há milhares de soldados enterrados aqui. Os jovens rapazes. É uma atmosfera muito especial, fizemos fotos à noite. É uma presença de quantidade, é toda a Europa central que está aqui, há pessoas de todas as confissões, de todas nacionalidades que compunham a monarquia austro-húngara."

Pokopališče: “É um cemitério de soldados austro-húngaros, há milhares de soldados enterrados aqui. Os jovens rapazes. É uma atmosfera muito especial, fizemos fotos à noite. É uma presença de quantidade, é toda a Europa central que está aqui, há pessoas de todas as confissões, de todas nacionalidades que compunham a monarquia austro-húngara.”

 

Evgen Bavcar – Você sofre uma violência inesperada… Você é violado pela guerra, agredido violentamente. Você não espera ser ferido ou levado pro hospital. Ao mesmo tempo, quando me acidentei com a mina, eu tinha 10,11 anos… E eu levei uma bronca quando cheguei ao hospital! A enfermeira me disse “Por que você fez uma bobagem dessa?”
“Por que?”

O primeiro civil fuzilado pelo exército italiano era um esloveno inocente, em 1915. Por isso eu digo que a tragédia na Europa Central começou em solo Esloveno. Em 1915, primeira guerra mundial, fuzilaram o primeiro civil. Foi o início da guerra, Itália contra Áustria… E isso não foi longe da minha região.

Quando eu estava na escola, também estava perto do cemitério. E quando fizeram uma construção em Nova Goritzia, desenterravam com frequência os oficiais austríacos enterrados ali. Os corpos não se decompunham, porque a terra do lugar não deixava o ar penetrar.

Isso me acompanhou todos os meus anos de escola. A guerra estava sempre presente. Fosse pelo meu corpo, ou pelas histórias. Ou pelo que eu via, ou pelo material que encontrávamos.

Existiam os tártaros da Criméia que lutavam pelo exército alemão. Eram chamados de mongóis. Tinham os olhos queimados e eram fortes, e muito selvagens. Perseguiam a resistência Eslovena que se escondia nas florestas e montanhas. Me contavam essas histórias. Sabíamos das sepulturas não oficiais, resultado de vinganças do pós guerra… Muitos foram executados por nada, sem julgamento. Minha mãe me contava, ela tinha medo.

A guerra era onipresente. Não é como em Paris, onde ninguém fala mais disso… Aqui ela existe sempre. Existem acidentes, encontramos materiais de guerra… Existem comemorações, vamos celebrar nossa entrada na guerra. O atentado de Sarajevo de junho de 1914. Eu li um livro sobre o assunto, mas eu vivi isso indiretamente.

Eu tinha um amigo bem mais velho que morreu já, com 97 anos. Ele me contou sobre 28 de junho de 1914. Ele tocava trompete. Quando a polícia chegou, mandou parar a música. “O príncipe Ferdinand foi morto, parem a música!” Eles disseram “Parem com a música e a dança! Nós matamos o príncipe Ferdinand.”

Tudo isso está nas minhas memórias. Depois houve a Segunda Guerra, ainda mais atroz. Com campos de concentração: Dachau, Stutthof, pra onde foi um amigo escritor que sobreviveu, eu já o fotografei.

Meu pai era artesão, ele fazia panelas de cobre, era um trabalho duro, um processo de fundição. Tínhamos também uma fazenda com vacas. Ele tinha muito trabalho durante o verão, e as crianças o ajudavam. Quando criança eu ajudava a desentortar pregos, pois não havia muitos. Eu endireitava os pregos antigos. Isso eu sabia fazer, por exemplo. Tínhamos tarefas domésticas além da escola.

Eu adorava ler. Eu lia muito. Eu devorava os livros. Toda a biblioteca! E ainda tinha as tarefas! E eu ajudava.

Que livros você lia?

Todos! Contos de fada, histórias, aventuras. Até no hospital existia uma biblioteca. Me lembro bem dos livros que li lá.

Por que motivo você estava no hospital? Foi depois do seu acidente?

Sim, do acidente com o galho no meu olho esquerdo. Eu via bem com meu outro olho e podia ler. Da segunda vez que fui, não enxergava mais nada. Foi quando fiquei cego. Eu me lembro das imagens dos livros. Eu li tudo! Os livros da casa, do meu pai quando era novo. Os almanaques. Eu conheço muito bem os atlas. Aos nove anos já lia tudo isso. Me interessava… a América, a Austrália.

Oce V Uniformi : "Meu pai em uniforme de soldado austro-hungaro. Foi prisioneiro de guerra pelos russos, na Ucrânia. Eu o perdi quando tinha 7 anos. Eu digo que vi meu pai depois de sua morte porque eu vi esta foto. Mais tarde, mesmo cego, eu ainda o via."

Oce V Uniformi : “Meu pai em uniforme de soldado austro-hungaro. Foi prisioneiro de guerra pelos russos, na Ucrânia. Eu o perdi quando tinha 7 anos. Eu digo que vi meu pai depois de sua morte porque eu vi esta foto. Mais tarde, mesmo cego, eu ainda o via.”

Era você e seus pais, você tinha irmãos, primos?

Tinha uma irmã, um ano mais nova. E minha mãe ficou com a gente, depois da morte do meu pai. E uma tia e um tio. Não éramos muitos em casa… Havia outros tios que trabalhavam numa usina. Nosso tio que também fazia panelas, artesãos. Nós tínhamos todas as ferramentas. Nessa época não podíamos consertar sapatos fora. Fazíamos tudo em casa com ferramentas para sapataria e marcenaria. Vivi isso tudo de perto. Em Paris se espantam quando eu digo que conheço todas essas coisas. Eu vivi isso, eu conheço.

Suas lembranças dessa época aparecem como imagens…

Eu observava o mundo. E esse mundo desapareceu, tudo desapareceu. As ferramentas, tudo desapareceu. No campo tínhamos poucos cavalos e apenas um carro. Um Topolino. E além, talvez uns 4 ou 5 motores.

Me contaram que após a primeira guerra, uma pessoa chegou de Viena. E ele trabalhava e aprendia muito, cuidava dos animais, era um bom veterinário. E ele veio de bicicleta e com uma câmera fotográfica! Isso era inimaginável! Uma bicicleta era como um Rolls Royce! Como só havia um carro, todos sabiam quando ele partia. Na cidade ao lado existiam alguns mais e até um táxi. Mas na nossa, eram apenas o carro, um trator e os motores. E também os cavalos e os bois.

Naquela época as pessoas trabalhavam nas florestas. Cortavam as árvores do vale para fazer tábuas. Isso eu descrevo em um livro, pois meu pai trabalhava também com isso, que conheço bem. Além disso tínhamos um moinho para moer farinha. Farinha de milho. Comíamos muita polenta! Como na Itália. É uma espécie de cuscuz. Ajudei também na irrigação do milho, pra que a água chegasse até ele. Todos esses trabalhos eu conheço bem.

Brincávamos como os partidários de Tito e os nazistas. Ou como os austríacos e italianos. Precisávamos dos adversários, assim criávamos as batalhas. Com fuzis… fingíamos atirar! Com baionetas também. Era nossa brincadeira. De um lado os partidários do outro os nazistas. Mudávamos de lado o tempo todo. Mas sabíamos que a resistência Eslovena tinha que ganhar. Brincávamos com balas, fuzis… com partes de fuzis às vezes… E essas partes já eram os fuzis para nós. Crianças têm muita imaginação, mesmo vazias, as balas eram de verdade! As brincadeiras eram de verdade para nós. Fazíamos potes de flor com munição de canhão vazia. Colocávamos água e as flores. Aqui em casa temos um, mas não sei onde está. Colocávamos água também em capacetes de soldados, como recipientes.

As crianças  faziam os potes? Ou os adultos?

Os adultos! As crianças brincavam. Eu fiz um pincel com a munição… ainda saberia fazer hoje.

 

Tunel Ruski Ujetniki: “É o túnel perto de minha casa, no alto da montanha que foi construído durante a primeira guerra mundial pelos prisioneiros de guerra russo. São soldados austro-húngaros, anônimos. O traço de luz ao fundo é a lembrança desses prisioneiros de guerra.”

Eram 3 mil militares, uma tropa. As crianças se distraíam com os militares. Eles nos cumprimentavam. Eles faziam guarda perto de casa, enquanto construíam o sistema de irrigação, e um militar ficava de guarda com uma baioneta. E eu ficava olhando… Um dia ele perguntou se eu gostaria de atirar. Eu disse sim, sim! Fomos atrás da casa e deitamos na grama, ele segurou o fuzil e eu apertei o gatilho, a bala saiu e BUM!

Com quantos anos?

Oito ou nove anos, não sei. Foi magnífico, eu tive a sensação de atirar, mas o soldado tinha que segurar o fuzil pra mim, porque o impacto era forte. Ele foi gentil com a minha curiosidade. Aquilo era proibido! Talvez tenha dado problema porque era uma bala de verdade. BUM! Atrás da casa. Foi extraordinário, um tiro de verdade.

Fazia também moinhos de água. Eu fazia muitas coisas. Fazia pistolas de acetileno, granadas incendiárias. Era a guerra…

Ela estava sempre presente mesmo com esse lado lúdico?

Sim, e havia festas também, pra comemorar a resistência Eslovêna. Na escola contavam a história da resistência, que estava na floresta durante a guerra. Meu tio contava quando os nazistas chegaram em 1943. Eles colocaram meu tio e meu pai em frente a um muro. O muro existe até hoje. Eles iam ser fuzilados. Graças a Deus, um oficial da Wehrmacht, do exército alemão, disse que não mataria civis. Assim, meu pai e tio se salvaram. Isso é duro… Se não fosse esse oficial, eles teriam sido fuzilados… Esse muro ainda existe. Eu preciso fotografá-lo um dia. Meu tio e meu pai esperaram… “o que eles vão fazer?”

Quando fiquei cego existiam outros colegas vítimas também. Meninos e meninas… Eu os vi feridos por artefatos de guerra no hospital oftalmológico em Ljubljana. Eu me perguntava, como vão me aceitar cego? Existe uma culpa, você se sente culpado por uma coisa que você não tem culpa. Você é inocente, vítima. As pessoas tentam te culpabilizar. Era a reação das pessoas quando era pequeno. Culpavam a minha mãe. É difícil viver isso… você não é como os outros. Meus amigos de escola me abandonaram. Nós tínhamos 12 anos. Todos me abandonaram menos um, que se manteve fiel. Ele me ajudou, me acompanhou, mas os outros, não. Me abandonaram, terminaram a amizade. Era esse amigo e um outro que me visitavam no instituto de jovens cegos. Mas todos os amigos que enxergavam, eu perdi. Isso também é uma violência…

E quando falávamos das meninas, eu me lembro da escola pra meninas… Se uma menina me agradava e agradava a um amigo, alguns me diziam “não esqueça que você é cego, você não tem chance com ela”. O que é mais triste é que às vezes eu me apaixonava porque um amigo se apaixonou, já que não podia vê-las. Isso também é uma consequência da guerra pra mim. E tem outros problemas… O diretor da escola não me aceitou mais. Apenas um diretor novo me aceitou, felizmente. Eu sofri de novo um golpe da guerra. Eu me dizia: “Se não fosse vítima de guerra, poderia ir a uma escola normal, como os outros”. Eu não precisaria pedir pra entrar na escola, ou na faculdade. São muitas consequências negativas, mas é preciso resistir. Eu luto todo o tempo. Partindo disso tudo é preciso superar criativamente. Mesmo se for conhecendo mais sobre armas. Isso me interessa muito.

Um psicólogo me disse que pra superar o trauma eu deveria saber sobre as armas. Uma espécie de psicanálise selvagem. E também é importante conhecer sobre outras guerras, tentar compreender a mentalidade dos outros sobre a guerra. Eu conheço isso a fundo, não é abstrato. Não vem dos livros. No meu caso é muito concreto, eu vejo os rostos feridos…

 

Noga: “Prótese de um homem conhecido que perdeu sua perna durante a primeira guerra mundial. Eu não vi esta perna, porque ela ficava escondida sob a calça, mas quando eu enxergava, vi apenas a parte inferior da perna e agora um dos seus parentes que me permitiram fotografar esta perna. É a lembrança deste senhor, que é um inválido, um deficiente de guerra, da Primeira Guerra Mundial.”

 

Como era a relação com os adultos, quando eles viam as crianças brincando com artefatos de guerra?

Eles diziam que era perigoso, mas a gente não obedecia e brincava mesmo assim.

Foi uma época feliz, você tem boas lembranças?

Certamente. Mas depois houve os acidentes. Eu aprendi com eles… E três outros meninos encontraram uma mina também, que os matou. Eu era pequeno, mas me lembro bem. Foi assustador. Eu conhecia o pai deles. Éramos amigos, eu fui visitá-lo no asilo. Eu registrei tudo isso. Me lembro de uma explosão muito forte quando isso aconteceu. E só um tempo depois soubemos que a explosão tinha matado as 3 crianças.

O caminho pro enterro era perto da nossa casa. Muitos acompanhavam os caixões que eram bem pequenos e brancos. Me lembro bem. Era diferente. O caixão de um adulto era marrom e maior, porque havia um adulto dentro. E aquele dia eles eram pequenos, de crianças, talvez um pouco mais velhas que eu…

 

Cirkev Javorka: “Igreja construída a partir de 1914, durante a primeira guerra mundial, no conflito entre Áustria e Itália. Lá estão enterrados enterrados milhares de soldados.”

 

Passemos para um período posterior: anos 1990, quando você já estava na França.

Sim, a guerra de independência da Eslovênia

Foi um momento forte pra região, que viveu recentemente uma outra experiência de guerra…

Justamente. Eu fotografei o tanque nessa época. De noite, os tanques passavam fazendo muito barulho. Como o diabo que passa, fazendo barulho. Ele destrói o caminho por onde passa… Os tanques iam até a fronteira nos bloquear, nos cercar. No fim, a defesa territorial recuperou os tanques… Sete tanques ao todo. E graças ao meu amigo comandante eu pude fotografá-los.

 

Tank: “É um tanque que fotografei durante a guerra de independência eslovena. É um tanque T55 russo. Antes ele estava em posse do exército federal mas a defesa territorial o recuperou. Um amigo que era chefe da polícia me conduziu para perto deste tanque. Era muito perigoso pois não muito longe havia uma caserna onde podiam atirar em nossa direção. Eu o fotografei com a luz de uma lanterna.”

 

Você tinha amigos militares, policiais?

Sim, ele tinha um primo cego e sem braço que esteve comigo no instituto. Nos conhecemos assim. Ele me disse “É perigoso, mas vamos tentar fazer a foto”. Perto ainda havia um barracão militar Iugoslavo. Eles podiam tentar atirar na gente… Era perigoso, mas fizemos a foto. Fizemos de noite, sem luz… Diziam que havia aviões, e os curiosos observavam os aviões que passavam dia e noite pra fazer pressão psicológica. Íamos para baixo das árvores para não sermos metralhados… Era perigoso… Isso aconteceu perto daqui. Precisávamos ser precavidos, mesmo se eles não acertassem ninguém. Quando estava em Ljubljana, durante os ataques, enchemos todos os recipientes de água com medo que a envenenassem. O exército federal fazia isso. Era um estado de guerra.

Você morava na França e…

Eu era o presidente do congresso na Eslovênia sobre a França. Eu estava aqui, sim, aqui. Fui convidado para vir. Não imaginei que estouraria a guerra. Declaramos a independência e logo após, a guerra. Não durou muito tempo, mas ainda assim era perigoso.

Como você se sentia estando um pouco longe do seu país? E a situação piora de repente… Você tinha vontade de ir até lá?

Antes de chegar na Eslovênia eu não sentia nada. Não sabia o que ia acontecer. Quando cheguei, fiquei sem saída. Não podia retornar à França. O exército bloqueou a fronteira. Depois a defesa territorial recuperou as fronteiras. Dessa forma eu pude voltar. E de lá, continuei seguindo o que ocorria no meu país. Era preciso começar a lutar pelo reconhecimento internacional da independência. Não queriam reconhecê-la como país independente. A guerra foi em junho, e o exército ficou até outubro. E me lembro que eles moveram todos os tanques para a Sérvia. E os aviões militares acompanhavam… Ainda estávamos em estado de guerra, mas sem hostilidade. Era o contrato deixar as armas para o exército federal. Havia 500 tanques. Muito para o território. Era um exército muito forte. Basta pouco para que as pessoas comecem a se matar… É perigoso.

 

Novinec Iz Lokavca: “Este é um cemitério que fica a alguns quilômetros de minha cidade. O senhor que está enterrado lá foi morto durante a primeira guerra mundial no combate de Isonzo Soco, entre Austria e Itália. Por acaso encontramos seu túmulo, sabemos que ele é do meu vilarejo.”

 

Eu não me iludo As pessoas viram selvagens de uma vez. Uma hora falávamos da fraternidade Iugoslava, depois viramos todos inimigos. Mesmo tendo a nacionalidade francesa, eu me sinto um estrangeiro. Me sentirei sempre, e meus melhores amigos são estrangeiros. Quando cheguei na França foi difícil. Existe uma questão colonial, mesmo que não seja evidente, é inconsciente. É escondido, eu sei disso. Como nos casos de casais de franceses e eslovenos, os franceses não aprendem a nossa língua. Para mim seria a coisa mais normal do mundo. Existem coisas assim. Eu não me sinto na França, me sinto sempre um métèque (estrangeiro). Sou um métèque aqui na Eslovenia. Porque vivi muito fora. E sou um métèque (estrangeiro) também na França. Os métèques eram da antiga Atenas, Grécia, que não tinham o direito de estarem ali. Métèque, métoikos.

Existe uma bela canção de George Moustaki: “Com a minha cara de métèque”. Vocês a encontram no youtube.

Você sabe cantá-la?

Sim, sim, um pouco.
Com a minha cara de estrangeiro,
Judeu errante aventureiro,
E os meus cabelos pelo vento…

Entrevista realizada por Diogo Oliveira e Sofia Tessler de Souza em março de 2014.

***

EVGEN BAVCAR, fotógrafo que nasceu na Eslovênia em 1946. Ele perdeu a visão dos dois olhos em dois acidentes no ano de 1957. Estudou Filosofia Estética na Universidade de Paris I, publicou inúmeros livros e artigos em revistas internacionais. Também realizou muitas exposições além de proferir conferências na Europa e América Latina.

 

Entrevista com Evgen Bavcar
por Diogo Oliveira e Sofia Tessler de Souza

Concepção
Mayra Redin
Sofia Tessler de Souza
Diogo Oliveira

Vídeo (concepção e realização)
Diogo Oliveira

Agradecimentos a Elida Tessler

 

Todos os direitos reservados.

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