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Traças, Pontos e Linhas

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Série Traças, pontos e linhas – Fábia Schnoor; 27 x 42 cm; 2012.

 

 

Memória é construção. Não o passado resgatado, mas sim uma parte dele, uma recriação desse tempo no momento presente.

Do mesmo modo que o cérebro humano dispõe de sistemas para memorizar os mais diversos conteúdos, dispomos de outro sistema análogo para esquecer outras tantas informações consideradas menos importantes. Como também na construção da história, dentre o que foi designado para registro e estudo, estão tantos outros fatos e versões esquecidas ou perdidas no tempo.

De que forma está implícito este esquecimento no que resiste? Que possibilidades de reconstrução se apresentam a partir das reminiscências? Quais as presentes relações possíveis com o tempo passado? Como elas podem estar a serviço do futuro?

Existe no vestígio algo de muito concreto e abstrato ao mesmo tempo. Ele existe, e nessa fisicalidade ou materialidade há um tempo passado impresso, sugerido. Um indício que aponta um futuro próximo de ressignificação. Na ideia de rastro e de vestígio está latente o porvir de tudo que se constrói a partir dele.

Perceber como se fazem as escolhas do que é guardado, do que é esquecido, redimensionar o que é perdido. Reconhecer a presença forte que uma ausência traz. Investigar como atua o acaso e o que se constrói a partir dele.  Ver o tempo agir, como  ele imprime suas marcas,  como desintegra e reintegra a matéria, o que é conservado, o que é perdido. Recuperar os vestígios, ler os indícios, operar com o acaso, dar novos significados, novas cartografias, novas arquiteturas, deixá-los à deriva para novos exploradores. Construir a História dos pequenos fatos de ninguém e de todo mundo, um lugar entre o lembrado e o esquecido, íntimo e estranho como um vestígio.

A série “Traças, pontos e linhas” surge de um antigo livro sobre a vida dos animais que fora todo comido por traças.  As páginas e a capa já soltavam da brochura. Partindo dos furos feitos pelas traças nas páginas do livro, foram marcados os pontos, exatamente como estavam, em uma nova folha de papel. Interligando os pontos, são reconstruídos os possíveis percursos das traças. Desenham-se volumes e planos que não se fecham, um dos vetores leva a outro volume, induzindo o olhar a percorrer o espaço e criar novas possibilidades de leitura das formas geométricas que surgem. Essa nova ocupação gráfica se relaciona com a da página do livro, criando relações entre estes dois corpos no espaço.

 

***

 

FÁBIA SCHNOOR nasceu em 1976, é artista plástica, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Faz uso de variados suportes e mídias como: escultura, colagem, desenho, pintura, instalação, intervenção urbana, fotografia e video.

http://fabiaschnoor.org/index

 

Créditos das obras:

1- Série Traças, pontos e linhas
Fábia Schnoor; 2012.
Página de livro comido de traças e desenho.

2- Traças, pontos e linhas # Capa do livro
Fábia Schnoor; 2012.
Capa de Livro comido de traças e linha de costura
.

3- Instalação Traças, pontos e linhas
Fábia Schnoor; 2012.
Desenho em nanquim feito na parede da galeria e linha preta.

Exposição Coletiva “Abre Alas” A Gentil Carioca 2013, Rio de Janeiro, 2012.
&
Exposição Coletiva “o espaco entre” – Largo das Artes – Rio de Janeiro, 2012.
&
Exposição Coletiva Residual Benefits” – Phoenix Institute of Contemporary Art (phICA)- EUA, 2012.

Fotografias: Fabrício Cavalcanti, Paulo Innocêncio e Fábia Schnoor.

 

Todos os direitos reservados.